Sob o ponto de vista clínico, as hepatites viróticas têm grande importancia. Alguns vírus têm predileção pelo fígado e são chamados hepatotrópicos. Os vírus A, B C , D e E são exemplos de vírus hepatotrópicos.
Outros vírus que podem causar hepatite, mas que não têm tropismo pelo fígado, são os vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, herpesvírus e da febre amarela.
Todos os vírus hepatotrópicos causam lesões anatômicas semelhantes, ou muito parecidas, no fígado.
Existem diversas formas clínico-patológicas das hepatites:
Existem ainda indivíduos que podem ser portadores sãos do vírus da hepatite. São aqueles que albergam o vírus no seu organismo, mas não apresentam sintomas clínicos da doença. Estes casos são importantes pois como não há sintomas da doença, eles podem transmitir inadvertidamente o vírus por contato sexual, doação de sangue ou de órgãos.
Médicos, dentistas, técnicos de laboratório, enfermeiros e pessoal em atividade nos bancos de sangue correm risco particularmente elevado de contaminação. Médicos (principalmente cirurgiões) ou dentistas portadores do vírus da hepatite, podem transmiti-lo para os seus pacientes no curso de algum tratamento
Vírus A | Vírus B | Vírus C | Vírus E | |
Ácido Nucleico | RNA | DNA | RNA | RNA |
Transmissão | Fecal-oral | Parenteral/sexual | Parenteral | Fecal-oral |
Doença fulminante | Rara | Rara | Rara | Grávidas |
Cronicidade | Não | Sim 1-10% | Sim 50-90% | Não |
Malignidade | Não | Sim | Sim | Não |
Vacina | Sim | Sim | Não | Não |
A hepatite aguda benigna, como diz o nome, é uma doença aguda de evolução benigna e tem as fases de incubação, fase pré-icérica sintomática, fase ictérica sintomática e fase de convalescença.
Macroscopicamente caracteriza-se por aumento do fígado, que se apresenta avermelhado ou esverdeado.
Microscopicamente apresenta:
Raramente o patologista tem a oportunidade de examinar macro ou microscopicamente um fígado com hepatite aguda benigna, uma vez que a doença tem curso brando, não necessitando de biopsias nem causando a morte.
A hepatite fulminante, como o seu nome sugere, tem um curso rápido e desfavorável, muitas vezes culminando com o óbito do paciente em 4 a 8 semanas.
Macroscopicamente o fígado encontra-se muito diminuído de tamanho (pesando metade do normal), mole, de cor vermelho-escura ou esverdeada, muitas vezes apresentando áreas escuras de necrose, alternadas com áreas mais claras, em que o parênquima está conservado, e é envolto pela cápsula de Glisson enrugada. Quando o paciente sobrevive por um tempo um pouco maior, podemos perceber nódulos resultantes da regeneração dos hepatócitos, que porém não se organizam em lóbulos. Neste caso podemos dizer que o paciente tem hepatite sub-aguda, que também não tem bom prognóstico.
Na hepatite fulminante, a característica microscópica que domina o quadro é a necrose, que é extensa, lesando lóbulos completos, sendo por isto chamada de necrose maciça. A reação inflamatória é mínima, o que leva alguns autores a denominar estes quadros como necrose hepática maciça. Clinicamente estes pacientes apresentam uma deterioração rápida do seu quadro, entrando em coma hepático, desenvolvendo hemorragias e, muitas vezes, evoluindo para o óbito.
A hepatite é considerada crônica quando persiste por mais de 6 meses, sem desaparecimento dos sinais e dos sintomas clínicos. Os virus B e C (principalmente o último), reações a drogas, doenças auto-imunes, doença de Wilson, deficiencia da alfa-1-anti-tripsina, cirrose biliar primária, são capazes de causar hepatites crônicas. Estas têm importância não só pelo desconforto que causam ao paciente, mas principalmente pela possibilidade de evoluirem para a cirrose hepática (cirrose hepática é uma hepatopatia crônica em que há subversão da arqueitetura lobular hepática com a formação generalizada de nódulos de hepatócitos, envoltos por fibrose) e, no caso das hepatites por virus B ou C, para o hepatocarcinoma (neoplasia maligna primária do fígado, formada por hepatócitos).
Histologicamente a hepatite crônica é caracterizada pela associação de inflamação portal, inflamação lobular e necrose dos hepatócitos. O infiltrado inflamatório é de células mononucleares e a necrose pode atingir pequenos grupos de hepatócitos periportais (necrose em saca-bocado=piecemeal necrosis) ou ser mais extensa e ligar espaços porta adjacentes ou espaços porta a veias centro-lobulares (necrose em ponte). Classicamente foram reconhecidos dois tipos histológicos de hepatite crônica: a hepatite crônica persistente e a hepatite crônica agressiva. Atualmente esta classificação entrou em desuso e prefere-se classificar as hepatites crônicas levando-se em conta os dados clínicos, sorológicos (carga virótica e anticorpos) e morfológicos.
Nas hepatites crônicas há destruição de grupos de hepatócitos por um tempo prolongado e estes muitas vezes são substituidos por cicatrizes conjuntivas.
Sob o ponto de vista morfológico devemos notar:
Com o passar do tempo, há modificação da estrutura dos lóbulos hepáticos, que são atravessados por cicatrizes fibrosas, prejudicando a vascularização dos hepatócitos, o seu funcionamento, a drenagem biliar e o escoamento do sangue.
Neste momento o paciente passa a ter uma cirrose hepática.